Falando poesias.


Grão de poeira
 Quinze minutos antes de tudo acabar eu me encontrava em minha janela; debruçada. Olhava os carros que passavam na rua abaixo - particularmente não gosto do barulho que fazem, sempre me incomoda a buzina de impaciência, a correria em si.- Passará muitas memoriais em mim aquela manhã, pressentia que algo estava para acontecer.  Por um momento achei que fosse só o meu medo dominando de novo todos os meus nervos, mas por outro lado imaginei se aquela chuva fina queria mesmo me dizer alguma coisa. Gosto de chuvas, porém aquela havia assustado-me, havia sussurrado o fim de algo ao meu ouvido.
Charlie foi embora naquela manhã. Talvez não tenha tido coragem de me olhar nos olhos, ou de ver-me chorar. Ligou e explicou os poréns, disse-me tudo que eu precisava ouvir e cravou estacas em meu peito com as palavras duras que nunca havia escutado.  Disse-me que de minhas “vírgulas” quem deverá cuidar sou eu e que estava cansado do meu modo de viver.  Aguentei todas as palavras com os olhos fechados, gravando cada fragmento para que elas preenchessem meu coração e expulsasse o amor que sentia por ele.  Continuei sem pronunciar nenhuma palavra.  As palavras ditas por ele, me bastaram.  Não havia nada que eu pudesse fazer, apenas o deixei partir.  
Lembrei de Charlie e de quando dormia em meu apartamento. Me sentia completa, como se todo o vazio que carrego na alma desde menina tivesse ido embora ou talvez nunca tivesse existido.  Charlie sempre me salvou de todos os meus maiores medos, até mesmo sem saber de cada um deles.  A vida me surpreendeu hoje, infelizmente envolve ele nessa surpresa.  Confesso que doeu e que continua doendo, como se o destino tivesse roubado de mim a única coisa que julgava ser boa. Logo a mim, que sempre sussurrei aos ouvidos de Charlie o quanto eu tinha medo do futuro.   Nunca gostei do imprevisível, de surpresas, pois sempre tive em mente que nem todas são boas. E eu sempre estive certa. 
Após alguns meses, continuei a cantar, com a voz baixa e estridente os meus sonetos de saudades.  Há quanto tempo não o vejo. Talvez ele tenha decorado meus roteiros diários e fizesse o possível para não cruzar comigo em alguma esquina.  Até mesmo na fila do pão ou na mercearia.  Não arrependo-me de ter contado cada tormento que carregava no peito ou cada pesadelo que me atormentava durante à madrugada.  Só arrependo-me de tê-lo amado tão profundamente quanto o amei. Ou amo.  
Charlie nunca foi uma estrela, nunca brilhou verdadeiramente.  Pensará eu ter tido uma estrela em meu céu, mas tudo que tive foi um pequeno grão de poeira enfeitando-me.
Carolina Chaves.

Espero que tenham gostado! Beijos.

Nenhum comentário

Postar um comentário

Layout por Maryana Sales - Tecnologia Blogger